sábado, 13 de fevereiro de 2016

Textos Ghost Writer


Linchamento na Cidade Morta




A vida em Abbadon é remota, desértica. Repleta de siléncios, esquecimento e preguiça. Testemunha de tempos imemoriais, a cidade comprida, neste dia refestela-se cozinhando sob sol do deserto, ao sabor de ventos escaldantes. Intenso. Quente. Seco. Vento sufocando cactos, espantando nuvens e até; esganando aves. Espraia-se pela cidade; lambendo a poeira de suas ruas, ruelas e becos abandonados. Olhe bem para aquela parede de tijolo de barro castigado pelo sol. Crack! Pronto. Mais uma pequena rachadura na estrutura do muro milenar. Você tenha a certeza; pode demorar o tempo que for, mas, todas as barreiras erigidas pelos perversos um dia serão reduzidas a pó pelo poder avassalador do astro e tú; poderá novamente ser livre. Livre para arder sob a luz incandescente de teu martírio, esta tua fornalha que chamam de sol.
Situada nos confins do deserto, na linha da última jarda que, quase chega a tocar a maldita vaporosa, entorpecida floresta negra, está Abbadon. É um engodo, uma decepção para qualquer viajante. Então...
Após eras, vórtex, espaço, quilômetros e milhas arduamente percorridos; o infeliz que está chegando até ela neste instante, tem todo direito de xingar em alto e bom som:
- Mas que lugar infernal e descabido é este? – E uma bolota de barro seco, num clima inclemente, explode pulverizada formando uma pequena nuvem suja que, fica imóvel por um instante manchando o ar, maculando o espaço, enquanto as edificações cegas, propagam ecos rochosos ao redor. As obras, parecem ter sido expelidas tortas e de cabeça para baixo do chão cinzento, amarelo e esquisito.
Lugar perigoso. Este viajante não sabe? Não vê (e mesmo que visse talvez não soubesse o que fosse), mas, do outro lado da cidade pela porta do sol; um morador acaba de chegar. Cansado de suas andanças pelo deserto Vetir, o ignóbil, retorna em seu veículo fantástico feito de restos humanos. Deseja esconder-se da luz diurna mais uma vez. Abjeto, asqueroso, baixo e desprezível ele tem orgulho de ser, mas detesta sentir-se como se sente agora. Derrotado. Das dobras de sua pele suína que ergue com uma das mãos brutas, retira lá de dentro, perolado como verdadeira margarina o sebo de suas secreções, misturado com sujeira, areia, seus próprios pelos e come; mastigando a massa devagar usando gengivas inflamadas e pontiagudos dentes enganadoramente apodrecidos. E aí, escuta um som. Um som de sino. Sino de ferro. Velho ferro. Vem da cidade. Do outro lado da cidade. De alguma das praças abandonadas. Alguma ainda tem sinos. Não há mais trens, mas, ainda existem os sinos. Alguém adentrou Abbadon pelo portal da noite. Alguém que desconhece a cidade. Todos os demónios que não viraram pedra ou, desceram pros infernos, devem estar indo sedentos de encontro ao idiota que os invocou; vibrando. Tocando o sino; fazendo reverberar som no siléncio inquestionável de Abbadon. Mas esta criatura idiota será de Vetir. Sem demora, este horroroso, possui sua locomoção, um chassi de colunas vertebrais movido a magia por seis braços humanos consequentemente; três pares de mãos em carne viva, sendo três de cada lado. O volante, é uma cabeça grande de bárbaro que, ele guia quando puxa de um lado para outro o cabelo trança embaraçada. Vai escalando ruínas, desmoronando sobrados, combatendo outros demónios com chicote, punhal e espada apenas para ao chegar a seu objetivo, ver um sarraceno azul, fantasma pagão. Há muito tempo não aparecia um por lá. Junto ao sino, ao lado de extinta ferrovia. Quem produzia o som no sino era corvo preto. Animal de estimação e projeção mensageira do fantasma. Enquanto ignóbil urra, derramando uma enxurrada de imprecações, outros demónios chegam em suas costas e começam a açoitar guloso ignóbil Vetir, com chicotes de fogo e espinhos. Sarraceno azul ri e, lentamente, desaparece daquele espaço decadente. Vetir já era.

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