domingo, 14 de fevereiro de 2016

Vamos curtir lendo um conto muito interessante e instigante? Divirta-se!

Apenas Vingança



Atenção:
Este texto é obra de ficção com violência sem compromisso com a realidade recomendado para maiores de 16 anos.
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Dizem que dar o troco é negativo. Sentimento de júbilo momentâneo que desaparece, assim que o objetivo é atingido.  Não concordo. Perdura. Ecoa pelo mar de eternidade que julgo ser o universo poderoso sobre nossas cabeças, ao redor e dentro de nós. A vingança fez de mim o que sou. Gosto do que me tornei. Sinto-me livre. Verdadeiramente livre. Vingança e liberdade. Aháaah! Ssshuashuashuash!

Cruel e solitária é a franca liberdade, já a vingança fria; é lógica radical alucinante. Extasiante. Acabei tornando-me outra pessoa por causa do desejo de vingança no qual depositei a fé de que saciando-o obteria liberdade para mim e para meus mortos.  Tal processo funcionou e no final, o que verdadeiramente sou chegou a mim. Tive que abandonar muitos costumes. Inevitável. Adquiri outros. Há tanto a dizer. Vejamos...

Covardes e idiotas, dizem que tudo é relativo. Transformam assim suas vidas em um lamaçal para viverem patinando em pensamentos que não levam a lugar nenhum. Apesar de não considerar-me nenhum destes dois tipos, vivendo aprendi que em determinadas circunstâncias; os cretinos estão cobertos de razão.

Os hábitos nos moldam. É engraçado isto. Atividades que realizamos diariamente por anos a fio, nos tornam a pessoa que somos em todos os momentos da vida. Praticando-as ou não. Por isto livrarmo-nos de um mal hábito, coisa que entendo como vicio; é complicado. Difícil. Mas não impossível. Escuros longos caminhos angustiantes, aguardam o corajoso viajante que percorre e quer vencer esta estrada. Depois ficamos tristes e superamos; levando para sempre conosco o cadáver ressecado de um vampírico mal hábito que, passará o resto de nossas vidas aguardando uma pequena oportunidade de gota de sangue para despertar e nos fazer pagar caro por nossa ingrata rebeldia reacionária.

Somos inconscientes do quanto e, supomos erradamente o modo como hábitos fazem de nós o que somos; devido não à falta de cultura, mas pelo excesso de informação; que a escola engarrafa e encaixota, isto é; a forma ignóbil, hipócrita e traiçoeira que fomos ensinados a pensar a respeito de tudo.

Ensinam-nos o jeito certo de nos vermos, o que querer e principalmente, aprendemos sobre os motivos que justificam e enaltecem nossas práticas diárias para o sucesso. Mas esquecem de dizer que sucesso é uma ficção e que a vida humana não é uma novela com final feliz; porque a vida biológica das pessoas, prossegue humilde indefinidamente sem incomodar-se nem deter-se para receber honrarias até que o acaso, a velhice, doenças ou o próximo; interrompem o processo da vida levando-nos todos a desintegração.  O hábito ou costume é uma atividade que, transforma-se em rotina, mas, não apenas isto. Depois vira vício. Nosso corpo e mente viciam-se em ser de determinada maneira. Sabia que, certas pessoas ao abandonarem rotinas praticadas durante muitos anos; enlouquecem a ponto de não saberem mais quem são e, qual seria o seu lugar na própria vida que estabeleceram para si próprios? Sabe? Não sabe? Quer saber? Foda-se! Vou te falar!

Quando Noah Spotter Grimes, Bloody Grimes me feriu através da minha família; ví que o troco seria algo muito simples. Não haveria neste mundo, vingança proporcional ao que me foi roubado. Sofrimento indescritível. Soube logo de cara. Restava-me apenas, mera e humildemente; matá-lo sem acabar numa prisão. Para depois, pelo resto da vida que vivesse; caçar e matar todos os que fossem como ele. Sem exceção. Decidi assim. Bem ou mal, positivo ou negativo não importava mais. Não importa mais.

Mas naquela época, eu não sabia a extensão dos fatos. Era verde. Pode-se dizer que sentia ódio, mágoa por ter sido privado dos meus objetos de afeto, da minha própria identidade. A gente só sabe quem é, pelo tanto que significamos para os outros. Especialmente nossa família. Eu penso assim. Ou pensava. Muita coisa mudou. Muita coisa mudou mesmo. Depois de dias passados somados a semanas que, fecharam meses os quais encerraram estações gestando em mim, já não mais homem e sim, o fim-do-mundo; uma bela cristalina e cintilante singularidade.

Destaquei-me, primeiro involuntariamente depois conscientemente, do mundo habitual conhecido. Saltei fora, como uma gravura picotada é destacada da revista de papel. Deixei de consumir. Continuo indo ao banco do hipermercado. É necessário, mas, não sinto mais prazer algum em compra e venda.

Abateu-se sobre minhas carnes e meu eu interior, um silêncio pacífico. Semi apático ostracismo furioso.

Não sobrou nenhum hábito. Conseqüência de um, dos muitos “entendimentos” ou insights (sabedorias) que vieram posteriormente. Estou falando de vícios. Nasci sem eles. Isto é entendimento. Eu, você e todos. Meu corpo encheu-se de saúde e força, enquanto para o resto do mundo; tornava-me invisível.

Por vezes acho que perdi a lucidez ou, vivo uma lucidez diferente da definida nas enciclopédias e por profissionais da psiquê. A cada dia que passa, tudo fica mais claro e claro. Todas as atividades realizadas pelas pessoas que observo movendo-se neste mundo, por mim; são interpretadas sempre de modo não convencional. Observo indivíduos inseridos em totalidades. Avaliar os riscos gerados pelo movimento e atitudes individuais de uma pessoa ou grupo ficou fácil. A maioria dos viventes, não sabe o que faz. Eu entendo o verdadeiro motivo do garoto sair para comprar pão pela manhã, enquanto o gato da vizinha o observa pela janela e o ônibus quase o atropela passando apressado fazendo uma curva aberta demais numa manhã chuvosa e fria, não fosse alguém ter grudado com cola; moeda dourada na calçada em frente a casa dele.

O mundo inteiro me ajudou nisto de ser esquecido. Obrigado. Ninguém gosta de tragédia real. As pessoas não querem ter contato com a verdadeira desgraça alheia; primeiro porque ela fede. Mais? Extrapola a pré-concebida medida razoável do desespero; prova por A + B que ninguém está livre disto e, ela pode acontecer (e acontece mesmo) com qualquer um.

Por fim, tanto lhe disse que, vejo-me obrigado a iniciar a história. Estas afirmações, remetem-me ao começo de tudo. Alice minha querida. O assassino sem face. Minha busca. O dia, em que meus três filhos desapareceram. 

No dia fatídico em que meus três meninos sumiram. Lembro bem que foi pleno exibindo em seu decorrer; todas as estações do ano. Esplêndido para um fotógrafo, mas, péssimo para que pistas fossem preservadas. Ótimo para apagar rastros e enfraquecer uma família, um bairro; uma chama. Mas não, não devo desconcentrar-me. Existe uma ordem de acontecimentos e sensações. Existem paisagens, odores, dores, luzes, sombras, sentimentos e eu perdendo e perdendo perdido no meio de tudo. Para mim aconteceu assim:

Antes de amanhecer ainda havia resquício de lua redonda próxima a linha pitoresca de um horizonte azul porém, esfumado dispersando luz nas nuvens tingindo-as de rosa amarelo e laranja prometendo em breve; alvo claro sol implacável. Eu não havia pregado o olho a noite inteira. Estava de luto. Alice minha companheira, tinha cometido suicídio assim dizia a policia, havia dez dias apenas. Eu estava amanhecendo o décimo primeiro dia sozinho em nosso quarto, sob a influência de Cetamina, um anestésico. Vestia calças negras, cinto de couro escuro, camisa de manga comprida amarela e mocassins de couro claro. Esperava imóvel que o dia, dispersa-se minhas moléculas pelo ar matutino viçoso. Ambicionava a desintegração. Suave luz azulada, espalhava lembranças pelo ambiente. Desconstruía a madrugada como se fosse ela, um medo a ser banido para o éter surdo de uma lucidez impossível. Sentado no final da cama de casal impecavelmente arrumada, eu era observado pela paisagem semi-sombria. As luzes de um avião piscavam zombeteiras, bem alto, bem longe. Surgia brilho por entre  sobrados velhos e longos telhados robustos. Vista oferecida pelas escancaradas portas de madeira branca e vidro que davam para a sacada do que um dia, foi nosso quarto. Meu e de Alice.

Alguém bateu na porta. Era Lara minha sogra. Queria falar comigo. Queria falar comigo e chamar-me para o café. Esta era a deixa. Eu devia passar uma água no rosto, conversar com ela e ir ter com os meninos que, provavelmente já estavam de pé e preparavam-se para ir a Igreja, depois o cemitério e por fim a escola. Eu estabeleci para eles esta rotina. Íamos a igreja, orávamos por Alice e pensávamos o que quiséssemos. Em certos dias, rezávamos e acendíamos velas, em outros; xingávamos e cuspíamos em Santos. Depois confessávamo-nos e éramos perdoados. Se deus existir ganhamos tudo, caso não; nada perdemos e ainda extravasamos. Sorri para Lara e a abracei com um braço enquanto com o outro segurava-me a um alto gaveteiro de oito gavetas que mantinha trancado. Por baixo da minha roupa bonita de mangas compridas, curativos e bandagens. Sentia todo meu corpo machucado, dolorido. Surrado. Agonia.

Alice morreu em um motel da cidade baixa. Rodeada de drogas. Sozinha. Dizem eles os falastrões de plantão que, empesteiam nosso mundo com suas frivolidades. Ignorantes preguiçosos inimigos da clareza. Malditos sejam mil vezes, e que apodreçam no mais terrível inferno; enfiados bem fundo no rabo do capeta. Minha Alice jamais! Idiotas filhos da mãe. A mordida que ela mesma deu em seu braço esquerdo, diz: “fui assassinada”. Mensagem apenas para mim. Alice morreu ao meu lado na cama. Fui acordado pelo disparo de vinte e dois. Fofocam as pessoas. A tudo distorcem os burros idiotas. Alice, jogou-se da sacada do nosso sobrado e, partiu a coluna cervical nos paralelepípedos da rua morrendo asfixiada. Alice fez a passagem na água morna da banheira cortando os pulsos. Por aí vai. E vai... E...

Disfarçado pelas ruas do bairro, já escutei e encorajei todo tipo de especulação. Ontem agindo incógnito como quem não quer nada, fui recompensado pela resposta correta; vinda de um jovem alto e não muito amigo de chuveiros, momentos antes de fecharem a última padaria. O segui. Ele morava num quarto e sala, colado anexo a um grande casarão abandonado, num escuro estreito beco próximo. Entrou em sua morada e fechou a porta. O céu noturno trovejou cuspindo luzes molhadas. Desatou a chover. Dois minutos depois, arrombei a porta na pernada. O cara estava à beira de uma mesa pequena, com a boca cheia de pão. Ao mesmo tempo fumava. Havia uma pia cheia de louça suja, geladeira, um fogão âmbar de gordura. Armário baratas. O chão sujo granulado, estralou sob meu caminhar quando arregalado saltei desesperadamente sobre ele; fazendo a mesa abrir as pernas com meu peso desequilibrando-o. Partimos em pedaços a cadeira onde ele descansava o esqueleto com a soma de nossas massas. Caímos embolados pelo chão. Senti faquinha de cabo de plástico usada para cortar pão penetrando na minha perna. O filho da puta, estava me esfaqueando. Esfaqueando! Segurei a mão que me ofendia, mantendo a faca enterrada na coxa. Com os dentes mordi seu nariz aquilino pontudo até sentir a cartilagem romper-se e minha boca encher-se de ranho e sangue. Desarmei-o. Joguei a faca na direção da pia para que fosse lavada e levantei-me lívido, com o rosto rubro de sangue num tranco, arrastando pelos cabelos o infeliz que esperneava, para dentro do banheiro onde tranquei a porta e enfiei sua cabeça pensante de caspa, no vaso sanitário enquanto lhe torcia um braço. Você me contará tudo seu imundo maldito. Tudo!!!

– Alice morreu na cozinha! – Disse ele, o Grimes e, eu respondi que sim.  O safado sabia que estava fodido.

– Ela não tirou a própria vida, não é? – Perguntei congestionado de fúria mas procurando alívio.  Ao que ele retrucou que não. Ele disse que a morte de Alice não tinha como ser suicídio porque ele, Noah Spotter Grimes a tinha matado e mataria mais. Lamentava-se por Alice não ter tido a chance de viver mais duas vidas, pois ele adoraria acabar com ela novamente. Era isto que o fazia seguir em frente. Matar. 

Eu e Alice quando jovens havíamos feito um pacto. Para casos de assassinato. Caso um de nós morresse assassinado, uma mordida no braço direito indicaria que o matador era conhecido. Se fosse desconhecido, mordida no braço esquerdo. 

No dia do fim-do-mundo de Alice ele a atraiu usando ruído. Ficou dando petelecos a cada dez segundos num copo de cristal na cozinha. Meu sono é de pedra, então quem apareceu para conferir a origem do som de arma em punho foi ela. Ele a pegou desprevenida por trás. Na cozinha coberta pela penumbra e banhada por fraca opaca luz fluorescente verde vinda de dispositivos eletrônicos. Ele usou nosso revolver Apache. Um revolver que ao invés de cano apresenta lâmina de punhal e a coronha é soco inglês. Tapou-lhe a boca com uma das mãos. Com a outra, guiou o Apache contra a cabeça da dona e entrelaçando seus dedos com os dedos dela primiu o gatilho. E foi o fim de minha vida Alice que antes de partir cumpriu sua parte do pacto. Aí ele atirou cadeira de ferro contra janela de vidro fumê, fugindo noite adentro pela abertura. As pessoas acreditam no que querem acreditar e sempre confundem a ordem das coisas. Agora estava em minhas mãos. E então, ele riu. De dentro de suas risadas naquele corpo magro, surgiu força inexplicável e ele ergueu a cabeça d’água fétida castanha. Lançou-se para cima e para trás comigo agarrado nele. Minhas costas explodiram um grande espelho fixado na parede encardida do banheiro e o atravessamos, caindo dentro de um ambiente secreto oculto. Estávamos no grande casarão abandonado, covil anexo ao quarto e sala de Bloody Grimes. Havia pessoas secas  acorrentadas nas paredes. Rolei pelo chão bolorento. Minha mão foi parar sobre um tijolinho de barro cozido maciço. O fiz  explodir contra o maxilar de Grimes que, cuspiu dentes e atingiu-me com a canela da perna comprida minha têmpora, antes de ir ao chão novamente. Tonto com o chute e irado cambaleei praguejando contra o assassino procurando algo para bater. Encontrei um bom pedaço de grossa corrente enferrujada disponível no chão repleto de detritos esterco de ratazana. Catei ela prontamente. Ao ver o que tinha achado, Grimes deu um guincho magoado afastando-se de rastos sem me dar as costas. “Agora você vai ver o que é bom Grimes, meu camaradinha!!!” – Rosnei para ele que, tinha chegado a um pequeno armário de ferro encostado a uma parede coberta de limo e teias de aranha marrom cabeluda. O safadão, ia abrindo a portinha deste armário e enfiando a mão quando, lhe dei uma bruta correntada que arrancou faíscas do armário de ferro aparando-lhe a sujidade das unhas, fazendo-o gritar como se fosse uma menininha. No processo, algo que ele havia pego escapou de seus dedos e, subiu rodopiando para o alto voando no ar úmido poeirento recortado de fachos de luz do casarão. Parecia uma chave e ao mesmo tempo; arma de fogo. Peguei o troço em pleno ar e com apenas um ligeiro golpe de vista, minha inteligência compreendeu a utilização daquele objeto de funções antagônicas. Aprisionar e libertar. Era uma chave lavrada em um cano de ferro calibre 22 onde, na empunhadura feita para facilitar o movimento de tranca da porta de uma prisão provavelmente; havia também um gatilho que iniciava o processo de disparo de uma única bala de chumbo. Enfiei a chave em um dos globos oculares de Grimes. Girei a bicha lá dentro pensando se, conseguiria destrancar-lhe o cérebro; enquanto ele enchia as calças de melaço. Depois, de posição dominante disparei de cima para baixo, ainda girando chave em sua fechadura ocular; e mais uma bala conheceu o aconchego do corpo. Furou a carne mole do palato, também a língua e pelancas do maxilar inferior; indo parar encravada nos ossos do externo em seu peito. Minha gente, espirrou uma enormidade de sangue e baba tão grande; que só vendo para crer. Impressionante. Mas ele não morreu. Não soube deste fato na hora; por estar em estado de choque e histeria. A quantidade de violência perpetrada por ele e eu, fora tão grande e intensa para minha pessoa que, meu cérebro embotou os pensamentos e passei a acreditar não na realidade do que via mas sim, no que queria acreditar. Vi Grimes morto mas movendo-se havia de estar pois, após eu abandonar aquelas masmorras imundas, cruzar o banheiro vermelho de sangue; tropeçar nos móveis destruídos da sala, levei a mão aos bolsos da calça e agradeci a Deus. Meu aparelho de comunicação especial estava lá ainda. Uma sombra encharcada me esperava evaporando água do corpo quente no umbral da porta de saída daquele pardieiro. Vestia-se com uniforme de carteiro. O carteiro barbado que havia algum tempo, entregava a correspondência na nossa casa. Com um movimento repentino ele arrancou do rosto a barba postiça, olhou-me com os mesmos olhos que eu acabava de deixar mortos para trás. Mas não podia ser possível. Um dos olhos eu havia furado e atirado mas agora estavam perfeitos. Ronco profundo surgiu do peito da figura sombria e ela zurrou junto com a tempestade:

– Grimes! Eternamente Grrrrrrrimmmmmesss!!! – Senti o primeiro murro trincar alguns de meus dentes. Pedalando no ar, Grimes deslocou um de meus joelhos que, voltou ao lugar na base do baque surdo quando, uma patada dele explodiu em minha virilha e caí de joelhos. Lutador. Magoadíssimo de dor, retirei a mão do bolso e apontei para ele meu comunicador que assemelha-se a um aparelho celular do ano de dois mil e cinco que, além de se comunicar, também dispara quatro tiros. O descarreguei em Grimes esperando desesperadamente que, ele morresse e, ficasse morto desta vez para sempre. Por graça divina, não errei um. Ele assustado sacudiu-se ao som e impacto dos tiros. Parecia revoltado como um insatisfeito dançarino endemoniado em brasas ou agulhas envenenadas de ódio, fúria e desespero espirrando água da chuva, carne, vômito e sangue arterial para todos os lados enquanto; batendo-se pelas paredes gritava a plenos pulmões seu próprio nome e me amaldiçoava.

Ao final de tão dramática performance, tomado por convulsão dura de pedra caiu mortinho da Silva pelo chão de sua morada devassada repleta de dejetos; enquanto eu cruzando por sobre seu cadáver inútil, ganhava a liberdade gelada da rua estreita do beco, onde chovia cântaros que lavavam meus ferimentos, meu fedor de medo; minhas lágrimas amargas agora invisíveis misturadas com água de chuva noturna. Tudo isto, apenas para encontrar novamente Grimes me encarando lá no início do beco. De seu longo sobretudo cinza encharcado ele fez surgir um lançador de foguetes portátil. Enquanto o apontava para mim e gritava seu nome novamente, eu fiz o que qualquer um faria. Dei no pé, voltando para trás pelo caminho de onde vim. Foi uma coisa boa para minha sanidade ter feito isto. Durante a carreira, pude ver que um dos Grimes que  supunha ter abatido, havia encontrado o outro Grimes e ao tentar ajudar, acabou morrendo sobre o outro. Então Grimes estava sobre Grimes, coberto por seu próprio sangue; em uma posição por assim dizer no mínimo, incestuosa. Mas isto logo evaporou-se do meu pensamento; quando rebolei meio descoordenado quicando na parede do banheiro e me metendo de qualquer jeito masmorra adentro, enquanto o calor da explosão carcomia tudo o que havia deixado para trás incinerando os fatos. Aquela construção antiga era grande. Longa. Escura. Escondido esperei e considerei o acontecido até o momento; quando um tempo depois consegui interceptar e capturar o terceiro Grimes. Estava segurando uma ratazana viva que silenciosa mordia furibundamente o pano que a enrolava numa mão e na outra, um gancho comprido de aço dobrado em mesa de prego muito usado em construção; quando ele surgiu do lugar por onde menos o esperava. Sobre mim. Eu estava dentro de uma fossa seca coberta por um tablado. Ele tinha vindo pelo telhado movendo-se como um macaco nos caibros do vigamento. Daí para eu enfiar-lhe a ratazana pelas pernas de sua calça adentro não foi nada. Grimes sentindo as garras e os beijinhos daquela bicha malvada, largou prontamente seu lançador portátil no chão e saiu rolando pelo pó tentando salvar as bolas de seu saco cabeludo fedido. Larguei também meu gancho e, saindo da fossa tomei posse do lançador. Voltei para dentro dela e fiquei fazendo mira observando Grimes que, se afastava rolando ainda pelo chão em seu combate feroz até, que ele conseguiu pega-la pelo pescoço. Abriu a braguilha e foi retirando-a suada lentamente de dentro das calças. Coisa degradante e escrota de se ver. Ela a ratazana, deve ter feito os maiores estragos neste Grimes por que, ele de tão furioso com ela lhe arrancou a cabeça com uma só mordida. Nesta hora eu o chamei e disse:
– Ô Grimes?! Quem são vocês? Por que matou Alice? Foi só um? Ou foram os três? Trigêmeos huh?
Ele limitou-se a arreganhar os dentes e gritar para mim:
– Grrrrriiimmmmmes vai fazer com que se arrependa de ter nascido!!!
– Já matei dois. Você será o terceiro. Tem mais?

Ele começou a rir. Gargalhava. Eu tolo idiota?

Neste momento, simplesmente acionei o dispositivo pressionando o gatilho escondendo-me na fossa rasa e seca enquanto tudo vinha abaixo. Instantes depois facilmente me vi livre dos escombros e achei meu caminho pra casa. Já lhes contei como amanhecí. Lhes disse também que Lara minha sogra foi chamar-me em meu quarto para acordar as crianças. O que não contei ainda, é que quando Lara e eu chegamos ao quarto dos meninos, eles não estavam mais lá. Que enquanto eu matava Grimes, Grimes na calada da noite raptava meus filhos. Eu procurava embaixo da cama enquanto Lara ia na direção das portas do armário que abriram-se sozinhas com força. De lá de dentro veio novamente Grimes agora vestido de preto e usando um DIY Wrist Crossbow, potente besta de pulso auto recarregável que dispara pequenas flechas de aço mortíferas. Lara recebeu quatro delas em rápida seqüência. Uma na testa, nos dois globos oculares que perderam-se lá dentro daquela imensidão e uma no coração que deixou apenas as penas à mostra. As pequenas setinhas deviam estar com sedativo muito forte pois venceu a química da Cetamina e me pôs para dormir. Acordei um tempo depois no porão úmido de uma delegacia com um investigador bruto dando na minha cara. Foi bem complicado sair dali, mas isto fica para outra história um dia quem sabe. Será o mundo repleto deles?


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